Arquivo Histórico do Engenho Camuciatá
O arquivo histórico do Engenho Camuciatá foi formado por diversos membros da família, durante várias gerações. Os documentos mais antigos são da segunda metade do século XVIII e foram produzidos e guardados por Baltazar dos Reis Porto, procurador da Casa da Torre e comprador da fazenda Camuciatá. A partir daí, seus descendentes foram acumulando todos os documentos que utilizaram durante suas vidas, fossem eles de cunho familiar ou de ordem profissional e oficial, na medida em que muitos deles ocuparam cargos públicos na Colônia e no Império.
Dentre todos os descendentes do fundador do primeiro engenho, o que mais colecionou documentos foi Cícero Dantas Martins (Barão de Jeremoabo). No novo sobrado que construiu, em 1894, preservou os papéis de seu pai e avô e foi juntando tudo que escrevia ou que chegava às suas mãos. Seu filho João da Costa Pinto Dantas e seu neto Dantas Júnior, mantiveram o acervo intacto, no escritório do barão, e seus bisnetos Maria Mercedes Tourinho Dantas Guerra e Álvaro Pinto Dantas de Carvalho iniciaram o trabalho de identificar e organizar o acervo. Trabalho que foi seguido pelo historiador Álvaro Dantas Júnior, que inventariou, juntamente com uma equipe de profissionais da área, a massa documental, digitalizando toda a documentação com o objetivo de preservá-la e disponibilizá-la para a pesquisa e estudos.
O acervo é composto de aproximadamente 3.500 documentos, entre cartas, manuscritos diversos, cadernos de notas, escrituras, inventários, livros da Guarda Nacional, carta de alforria, recibos de compra e venda de escravos, livro de contabilidade do engenho e alambique, mapas dos trabalhos da fazenda, caderno de despesas realizadas, listas eleitorais, notas em cadernos sobre a agricultura e a pecuária de suas fazendas, relação de despesas nas fazendas e na construção de açudes, fotografias, dentre outros.
Além dos manuscritos, também fazem parte do acervo fontes impressas como artigos, manifestos, circulares e recortes de jornais. A maior parte desses documentos se encontram no escritório do sobrado do Camuciatá. Com relação à correspondência ativa e passiva do Barão de Jeremoabo, composta de aproximadamente 2.000 cartas manuscritas, estão preservadas até os dias atuais, porque o seu titular tinha o hábito de guardar todas as missivas que recebia. Esse conjunto documental, tendo se passado 118 anos do seu falecimento, foi conservado, assim como os demais documentos, no escritório do sobrado do Engenho Camuciatá, no mesmo lugar deixado por ele. Atualmente, os originais se encontram na Universidade Católica do Salvador, por ter a família entendido ser um local mais acessível aos pesquisadores.
As cartas foram recebidas pelo barão e enviadas a pessoas de destaque político na sociedade, como ministros, governadores, senadores, deputados, secretários de estado, intendentes municipais, desembargadores, juízes, delegados, promotores, padres, fazendeiros de diversos municípios e estados; mas também a pessoas menos gradas na escala social, como aos vaqueiros de suas fazendas. Através do conteúdo dessas cartas entramos em contato com as circunstâncias cotidianas, econômicas, sociais e políticas daqueles que as produziram, como também com o tempo histórico em que viveram. Abrangendo um período que vai de 1865 até 1903, retratam os mais diversos assuntos, como a política imperial, história dos partidos políticos, a questão da escravidão, economia açucareira, a Proclamação da República, a Guerra de Canudos, a seca, e assuntos do dia a dia que revelam aspectos da cultura de uma época.
Neste momento, o Instituto disponibiliza em formato digital uma pequena amostra da correspondência e os documentos que compõem o acervo, com tipologias variadas. O acervo completo das cartas será digitalizado e disponibilizado posteriormente.
O arquivo histórico do Engenho Camuciatá é um dos mais ricos e raros do Brasil. Pela dimensão e conteúdo dos seus documentos, se iguala aos mais importantes arquivos privados de famílias e personalidades políticas do Império brasileiro. Aberto à pesquisa, já embasou diversas dissertações e teses de doutorado, servindo de fonte para muitos livros publicados a nível nacional e internacional a exemplo de “Guerra do Fim do Mundo”, do escritor e político peruano Mario Vargas Llosa.
O projeto de digitalização do arquivo histórico do Engenho Camuciatá tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Pedro Calmon via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.