Instituto Museu do Nordeste Barão de Jeremoabo - Histórico da Biblioteca

Histórico da Biblioteca

Cel. João Dantas dos Reis – Pai do Barão de Jeremoabo

Nosso Acervo

Histórico da Biblioteca João da Costa Pinto Dantas Júnior

O acervo da biblioteca do sobrado do Engenho Camuciatá, em Itapicuru, começou a ser formado pelo coronel da Guarda Nacional e Cavaleiro do Hábito Professor de Cristo João Dantas dos Reis, pai do Barão de Jeremoabo, por volta do ano de 1820, quando ele retornou do Seminário Arquiepiscopal de São Damaso, em Salvador, apesar de não ter se ordenado. Lá, adquiriu o gosto pela leitura que manteve por toda a vida. Como residiu muitos anos na fazenda Caritá, em Jeremoabo, os seus primeiros livros ficavam na biblioteca da casa grande dessa propriedade. Com a idade avançada, se mudou para o Camuciatá, levando consigo as obras que tinha adquirido. Os principais títulos que compõem a biblioteca são da área do Direito e se referem às suas atividades profissionais e os cargos que ocupou, como juiz municipal e de órfãos, delegado de polícia, juiz de paz e coletor das rendas provinciais e gerais. Esses são os livros mais antigos da biblioteca.

Seu filho, Cícero Dantas Martins, depois Barão de Jeremoabo, herdeiro do Camuciatá, deu continuidade à formação da biblioteca. Como estudante de Direito na faculdade de Recife, após a sua formatura, em 1859, trouxe os livros que adquiriu, a princípio, para a casa paterna na fazenda Carítá e quando se casou em 1865, levou parte do acervo para o Engenho Regalo, em Santo Amaro e outra parte para o Camuciatá. Criado em um ambiente familiar, onde a leitura era incentivada, comprou muitos livros ao longo de sua vida. Na fase em que morou na Côrte, no Rio de Janeiro, quando estava no exercício do cargo de deputado geral, teve acesso às melhores livrarias do Brasil, adquirindo tudo o que ia sendo publicado, de acordo com o gosto e a cultura da elite senhorial.

A partir daí, diversificou sua biblioteca à medida que foi tendo contato com obras dos primeiros escritores da literatura nacional. Consta, por exemplo, das estantes do Camuciatá, as primeiras edições dos livros de José de Alencar, quando ainda assinava com o pseudônimo de “Sênio”. Não ficou indiferente também à influência da literatura francesa, que dominava o gosto e a cultura da classe dirigente brasileira. Em livrarias da Côrte, na Rua do Ouvidor e em outras ruas do centro, comprou livros como as “Fábulas de La Fontaine”, dentre outros. Aos poucos, seu gosto pelos estudos herdado da casa paterna e adquirido na escola, quando fez as primeiras letras estudando grego, filosofia, latim, retórica, geografia, francês, inglês e geometria se refletiu décadas depois no perfil da biblioteca que ele formou.

Em 1894, quando inaugurou o sobrado do Camuciatá, seus livros já estavam enfileirados nas estantes de jacarandá do seu escritório. Além dos livros de seu pai, os mais antigos, colocou nas estantes os livros de histórias infantis que lia quando criança, como o “Gato de Botas” e “Barba Azul”; depois os livros de Direito do período que estudou em Recife e em seguida as mais variadas obras que trouxe do Rio de Janeiro e de Salvador. Em sua biblioteca particular, podem ser encontrados livros sobre literatura, direito, agricultura, pecuária, economia açucareira, política, religião, medicina, história, dentre outros variados temas.

Com o falecimento do barão, em 1903, seu filho João da Costa Pinto Dantas e sua nora Ana Adelaide Ribeiro dos Santos Dantas continuaram a ampliar as obras no acervo, sempre adquirindo livros com o mesmo perfil dos que já existiam anteriormente. O gosto feminino trazido pela nora do barão ampliou os exemplares referentes a literatura, poesia, música e religião, refletindo o perfil da educação feminina no Império brasileiro e nas primeiras décadas da República.

A biblioteca do sobrado do Engenho Camuciatá leva o nome de João da Costa Pinto Dantas Júnior, neto do Barão de Jeremoabo, por ter sido ele o responsável pela preservação desses livros até os dias atuais. Composta de aproximadamente 500 livros, reflete a mentalidade dos senhores de engenho, fazendeiros e políticos da Bahia colonial e imperial. Esse rico acervo é um dos mais raros do Brasil. Poucas bibliotecas de senhores de engenhos se mantiveram completas e preservadas, se caracterizando dessa forma, por seu perfil e especificidades, como uma das coleções mais raras particulares do país. Está aberta para consulta e pesquisa aos estudiosos da cultura brasileira.

Crédito:
Foto Fazenda Caritá onde a biblioteca começou: Biu Vicente